domingo, 16 de setembro de 2018

Odor de Classe média.

A vida em apartamentos exala um cheiro diferente.

Em 8m² de conjuntura técnico-funcional, a única fenestra disponível aos ventos se condiciona num fluxo convectivo entre paredes alvas de massa acrílica que deposita nossos fragmentos desprendidos de pele no chão de taco sintecado. Entre as frestas de madeira desse piso, se acumula o pó de nossos chinelos junto a células mortas de epiderme que ali, vão curtindo e envelhecendo entre micro tonéis de taco.

Aos poucos se levantam os aromas desse couro morto curtido, mesmo após a passagem da diarista.

Sem saber como era gerado, sempre o defini  como cheiro de quarto dormido ou aroma de adolescente branco em onibus azul. As notas de meia perdida sob a cama , short de academia , fluidos de colchão e copos de coca com restolho são secundários nesse miasma urbano, moderno e destinado a ser parte da rotina de cada vez mais pessoas.
A pele que deixamos para trás é o rastro mais íntimo de nossa presença nos cubículos dos edifícios. Nossas células vão fermentando em substratos diversos. Alheias ao toque do interfone e ao capricho da especulação imobiliária.

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