terça-feira, 20 de julho de 2010

Deborah ah!

Os deuses do conhecimento e as musas da arte sentem-se desapontados ao ver, trabalhando em um guichê administrativo, aquela que foi predestinada para ser a maior historiadora do rock de todos os tempos.

Calaram-se os espíritos da cultura perante a perda de um talento, apagado pelo abafado castramento das repartiçoes públicas, que canalizam as paixões da juventude para sucessivas repetições de: "bom dia senhor diretor".

Do lado de fora os reflexos passam pelo vidro fumê. São os espectros dos carrinhos com sucada empurrados pela asmare, das gordas com sacolas de Lojas rede em uma mão e um balde de plástico na outra; dos estudantes que carregam papeis nas mãos e taras na cabeça, dos onibus amarelos, vendedores de raquete, travestis da ativa e uma infinidade de pessoas que transcendem o espaço urbano todos os dias. Todos olhando momentaneamente pelo vidro fumê e assistindo ali, para além da imagem do vigia de braços cruzados, a triste figura da menina de talento que durante oito horas do seu dia tem as asas de sua imaginação cortadas.

Sorte tem aqueles que no breve instante do balcão se deparam com aquele sorriso pueril cheio de encantamento que ela oferece após lhes dar um carimbo. Poucos sabem que este é o mais ínfimo dos predicados que ela tem a presentear aos que com ela compartilham a vida e um copo de destilado com gelo.

Todos os dias centenas de pessoas são enganadas ao descrever o recinto em que ela se encontra como: um guichê de atendimento. Sendo que na verdade, aquilo se chama gaiola. É a prisao que encerra o desabrochar de uma rosa acadêmica. Mais do que um balcão aquilo é o aquário capitalista que a impede de nadar em toda sua explêndida nudez no oceano de glórias e conquistas do conhecimento que a cerca..

está ali, esquecida em um protocolo apenas uma parte de Deborah. A menina branca que vemos ali está incompleta, seu ser esta pela metade. Incompleta porque os seus sonhos são deixados do lado de fora e mal podem atravessar a Av. santos Dumont.

Podemos ver todos os dias, abandonada em um protocolo, a chama de um talento não reconhecido. A grande vencedora de 2005 fica ali perdida, em meio a um mar de grampeadores e envelopes pardos. Por mais que esteja presa ela não deixa nunca de ser quem ela verdadeiramente é: um encanto, a poesia, a inspiração dos céus.

Eis que ao fim do dia ela deixa o prédio. Caminhando com seu passo de deusa entre a calçada imunda que, ao ver o sol se por, é tomada pelos ratos que são de fato os verdadeiros posseiros das ruas do centro.

São sujos e ligeiros mas ao contrário da Deborah , são verdadeiramente livres. Transam e roem. apenas isso. transam e roem, noite apos noite,, sem se importar que nessas calçadas, no dia seguinte, passarão homens e mulheres com seus envelopes de crédito nas mãos em busca do protocolo número 8.