Nestes anos que venho trabalhando na vetusta casa de Guimarães Rosa e JK, aprendi a sentí-la como parte de mim. Ressalto que ela foi um marco na minha vida profissional em muitos sentidos e portanto, é justo considerá-la como minha segunda casa. Justamente por ter tanto apreço a esta casa resolvi escrever alguns versos que saudam os 100 anos de tão nobre instituição. Me encomendaram tal trabalho para que fosse publicado na abertura da espoxição do centenário sendo que, tal publicação não chegou a ser feita. Resolvi não perder a oportunidade de torná-lo público... Transcrevo o texto abaixo que foi escrito por mim aproximadamente em fevereiro de 2011.
Há 10 décadas um
caminho de desafios, aberto pelo brilho e entusiasmo de nossos pais e avós, foi
sendo trilhado. Foi a caminhada que fez abrirem-se os caminhos. E deste brilho
inovador, da audácia arredia contra a adversidade foi gerado o orgulho que sustenta
os inúmeros diplomados que passam por estas portas. Portas que se no passado
eram de rija madeira vigorosa, feito o espírito que é esperado daqueles que
ousam servir ao conhecimento, são hoje claras e transparentes tal qual os
horizontes libertários que a sabedoria faz nascer. Homens que aqui entraram
humildemente necessitados do saber se obstinaram ao longo de vários semestres para
merecer saírem ungidos pela certeza de que a educação libertadora aqui recebida
os convencerá mais do que antes da grande ignorância que terão ante os desafios
colocados pelo mundo. A tradição por nós erguida não foi a de formar doutores,
mas a de diplomar homens e mulheres encarregados de se inconformarem
eternamente com os sofrimentos humanos.
Apesar de não estarmos a altura
faremos nossas as palavras de Leonardo da Vinci que dizia: “A vida bem
preenchida torna-se longa”. E são os passos das centenas de pessoas cruzando
diariamente esses corredores que preenchem a vida desta casa. O toque sensível
da aurora nestas fachadas faz despertar nas primeiras horas da manhã o som das
catracas que ao girar entoam a pulsante celebração da vida em cada andar que se
enche, com a agitação dos corredores e o abrir das salas. Foi este espírito e
esta movimentação que tornou longa nossa existência. Tal circulação constante
de gente assim como o fluxo sangüíneo dos corpos, dispersa os nutrientes que
edificam nossa estrutura. A faculdade não só é feita destas pessoas mas se
constrói a partir delas que, tal como células de um organismo se dispõe
determinadas a cumprirem suas funções desde as primeiras horas do expediente
estudando, trabalhando, ensinando, pesquisando, limpando, estagiando, zelando
pelo patrimônio enfim fazendo a história.
Através desta exposição, queremos
compartilhar singelos fragmentos de uma epopéia ainda inacabada.
Leandro Menezes, acadêmico do Centro de Memória da Medicina de MG